terça-feira, 17 de junho de 2008

Agora momento foto-musical





Agora em homenagem à Ana Paula, se ela diz que parece, eu acredito...

Ele era um menino
Valente e caprino
Um pequeno infante
Sadio e grimpante
Anos tinha dez
E asas nos pés
Com chumbo e bodoque
Era plic e ploc
O olhar verde gaio
Parecia um raio
Para tangerina
Pião ou menina
Seu corpo moreno
Vivia correndo
Pulava no escuro
Não importa que muro
Saltava de anjo
Melhor que marmanjo
E dava o mergulho
Sem fazer barulho
Em bola de meia
Jogando de meia-direita ou de ponta
Passava da conta
De tanto driblar

Amava era amar
Amava Leonor
Menina de cor
Amava as criadas
Varrendo as escadas
Amava as gurias
Da rua, vadias
Amava suas primas
Com beijos e rimas
Amava suas tias
De peles macias
Amava as artistas
Das cine-revistas
Amava a mulher
A mais não poder
Por isso fazia
Seu grão de poesia
E achava bonita
A palavra escrita
Por isso sofria
De melancolia
Sonhando o poeta
Que quem sabe um dia
Poderia ser

(créditos da foto: roubada de algum site, exposição virtual que eu não lembro, então,se você, autor da foto, topar com esse blog, por favor, assinar a linha pontilhada: _ _ _ _ _ _ _ _)

Ainda momento musical, vide nostalgia

"Son, 'she said:'
Have I got a little story for you
What you thought was your daddy
Was nothing but a...
While you were sitting home alone at age thirteen
Your real daddy was dying,
Sorry you didn't see him,
But I'm glad we talked..."

Oh I, oh, I'm still alive
Hey, I, I, oh, I'm still alive
Hey I, oh, I'm still alive
Hey...oh...

Oh, she walks slowly
Across a young man's room
She said: "I'm ready...for you"
I can't remember anything to this very day
'Cept the look, the look...
Oh, you know where,
Now I can't see, I just stare...

I, I'm still alive
Hey I, oh, I'm still alive
Hey I, oh, I'm still alive
Hey I, I, I, I'm still alive, yeah
Ooh yeah...yeah, yeah, yeah...oh...oh...

"Is something wrong?", she said
Well of course there is
"You're still alive", she said
Oh, and do I deserve to be?
Is that the question?
And if so ... if so ...
Who answers? ... who answers? ...

I, oh, I'm still alive
Hey I, oh, I'm still alive
Hey I, oh, I'm still alive
Yeah I, ooh, I'm still alive
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah, yeah

domingo, 15 de junho de 2008

Mentiras de amor

Em homenagem a todos que já ouviram uma mentira de amor, um "eu te amo" que jamais foi sincero


Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou à Ipanema
Não gosto de chuva
Nem gosto de sol

E quando eu lhe telefonei
Desliguei, foi engano.
Seu nome eu não sei,
Esqueci no piano as bobagens de amor
Que eu iria dizer

Não, Lígia, Lígia.

Eu nunca quis tê-la ao meu lado
Num fim de semana

Um chopp gelado em Copacabana
Andar pela praia até o Leblon

E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão
O seu nome rasguei
Fiz um samba-canção
Das mentiras de amor
Que aprendi com você

Lígia, Lígia

E quando você me envolver nos seus braços serenos
Eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo
Que um raio de sol

Ligia, Ligia

terça-feira, 20 de maio de 2008

Caminho de volta

Tempo que não dou as caras. Ocupado em brincar de pensador de clichês urbanos e formador de jovens mentes. Ocupado em brincar de ser quem sei que não sou, embora tenha me divertido um pouco, é verdade. Mas também é estranho. E agora que sinto necessidade de voltar para cá, encontro um espelho coberto por panos, tapetes e poeira. E a cada tecido retirado, camada limpa, fica a sensação de desconhecer o que se refletirá, e eu não sei se isso me dá medo. Talvez, quando tudo estiver limpo e claro, só surja eu mesmo. Ou talvez ainda surja o reflexo de teu sorriso, o que não me surpreenderia nem um pouco (é um fato, perdeste a capacidade de me surpreender). Mas ainda não é o momento. Toda madrugada é brindada com ao menos uma saideira, quando o sorridente garçom trajando um elegante preto se aproxima. Seu sorriso e o gélido véu sobre o derradeiro vidro âmbar sempre revelam que ele será merecedor cada centavo de sua gorjeta.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O passar dos segundos

Sente-se, sente-se, respire e assim permaneça, se desespere, se desespere, se permita o desespero para depois se lembrar de recomeçar a respirar. Levante-se, sinta-se pleno, mesmo ainda que fugaz e falso, dance, dance, só e de olhos fechados, perca-se em outras bocas sem abrir os olhos, porque quando o fizer, não será ela que estará lá. Sangre, sangre, não fuja do vazio que pulsa, que jorra, que te fará um homem melhor e mais sábio, embora com ainda mais cabelos brancos. Sim, não fuja, toda dor precisa ser vivida até o fim para ser curada, toda história precisa ser vivida até seu fim para emendar em novas histórias, seja lá para qual caminho estranho a vida for nos empurrar. Não se feche, não se feche, peça desculpas às bocas nas quais se perdeu de olhos fechados, tentando brincar de voltar o tempo por algo que habita na esperança vazia de uma solidão que não será eterna. Viva, viva, o riso voltará a ser conseqüência, não se prenda por demasiado a ausências, pois quando menos esperamos a vida bate às nossas portas, encontros inesperados batem às nossas portas, novos dedos entrelaçados e trocas de olhares cúmplices batem às nossas portas. Amém.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Crônica de uma manhã com muito, mas muito sono

Hoje eu estou com um sono muito absurdo mas eu estou no Museu então tenho que fazer qualquer coisa para me manter acordado até porque dou aula até as nove da noite em Niterói qualquer coisa que me mantenha acordado como um fluxo de palavras sem qualquer pontuação mas eis que entra pela porta um hipopótamo fumando cachimbo que solta bolinhas de sabão e ele diz calmamente você precisa controlar todos os aquecedores a gás esquecidos acesos pelos banheiros do mundo. Stop. A vida parou ou fui eu quem pegou no sono?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Sobre estes dias tão estranhos

Todo mundo já deu plena razão àquele verso, aquele, ele mesmo, daquela canção, aquela, ela mesma, de amor. E também a algumas estrofes daquelas que sempre pensou que odiava, achava brega. E quem não deu, deveria, pois não é bom aprisionar solidão, porque quando ela sair não será por via de lágrimas, mas na frieza vazia de um olhar descrente. Morto como o vento que assobia por igrejas abandonadas, ricas apenas em altares sem deuses.

Todo mundo já sofreu a ponto de se tornar aquele bêbado chato, ele mesmo, aquele do final de semana passado, que você apontou rindo e comentou com o garçom "como pode?". Na verdade, sabemos muito bem como pode, e só nos resta torcer para que tarde a chegar nossa hora de virar comentário de final de noite.

Todo mundo já quis recomeçar do zero, sem nem perceber que antes do zero há toda uma corja de negativos, e que disso nunca poderá se escapar. Como a criança que se abriga vigorosamente embaixo das cobertas à noite, temerosa dos fantasmas do quarto e do famigerado embaixo da cama. Ela sabe que mente para si própria e que tais ameaças se alimentam apenas de sua própria mente, mas mesmo assim repete esse ritual a cada apagar das luzes, pois o medo é uma marca que nem toda alma consegue, ou quer, superar.

Todo mundo já equacionou em diversas ordens os seguintes fatores: magoar, ser magoado, por querer, sem querer. Todo mundo tem um rosto que o acompanha ao enterrar seus olhos em travesseiros solitários. Esse rosto tem mil faces. Esse rosto tem mil segredos. E às vezes, desvendá-los pode vir a ser uma viagem dolorosa de desencontros de toques e desejos. Mas às vezes não, e essa pequena possibilidade faz todo resto valer à pena, por mais duros que nos tornemos (e Deus, como nos tornamos) a cada milha percorrida.

Todo mundo é assim. E eu, eu só estou errando com minhas próprias pernas. Nunca é fácil. Não precisa ser certo. Só precisa ser com minhas próprias pernas. E assim eu vivo, aos meios-sorrisos, assim eu vivo por inteiro.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Sexta-feira

Estou de mudança, e arrumando as minhas tralhas achei o fichário com as primeiras coisas que eu escrevi na vida, ainda adolescente. Vou me permitir a nostalgia, e de vez em quando colocarei uma delas aqui. Eis a primeira, com o título acima. Boa leitura, ou seria melhor boa sorte?


Não me importa mais paisagem morta
O passado não será o futuro do pensamento
E hoje, somente e pelo menos hoje, o homem será capaz de voar
A diversão passando de objetivo à necessidade
Tão tênue é a barreira entre loucura e genialidade
E me coloco pretensamente em cima dela
Tomando uma cerveja e traduzindo obscenidades em poesia
Apenas para me embriagar num certo sorriso
E hoje, somente e pelo menos hoje, eu serei um pouco diabo
Mas não, meu capitão, não quero ser mal personificado como mau personificado
Quero apenas circular com a classe malandra, atraente e brasileira dos anjos caídos
E quem sabe hoje, somente e pelo menos hoje,
Eu possa te esquecer um pouco, eu possa te esquecer por outra
Como se fosse possível ignorar o maravilhoso sorriso
Que minha covardia de dizer o que sinto expulsa para a dor da distância
Só por hoje, deusa, segunda estarei de volta
E sempre, somente e pelo menos sempre, eu serei teu

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Pater Noster

From this day on i own my father's gun.

Talvez muitos não saibam, mas há pouco mais de um ano eu fui abraçado pela paternidade. Quando chego do trabalho para acariciar os cabelos prateados do meu menino, seus olhos me fitam com uma felicidade indescritível. Uma alegria daquelas que não pedem nada em troca, adornada por um sorriso de admiração de toda a criança que vê no pai um super-herói. Apenas por você estar lá. E seus olhos, senhor, são de um azul que fariam qualquer céu nublar de inveja.

À noite, gosto de vê-lo dormir. Seu corpo frágil, enrolado em sua manta quadriculada, movimentando-se em um preguiçoso desabrochar, como um pé-de-valsa que ainda não descobriu o caminho para o salão favorito. E de quando em quando, ele me dá a honra de interromper seu valsar para me presentear com sua candura transmitida pelo indescritível azul do qual eu poderia falar horas e horas. E, para meu maior deleite, ele balbucia palavras, lindas melodias de sabedoria que poderiam mudar o mundo, se ainda pudessem ser compreendidas. E após este pequeno e só nosso ritual, cada 24 horas passam a ter valido à pena, não importa quantos leões tenham me matado por dia. Como um passe de mágica, mas não de autoria de qualquer Merlin, e sim do próprio Fred Astaire.

Inversão. Enquanto pais preocupam-se com caráter e carreira em longínquos horizontes, eu me orgulho da honradez e das conquistas do futuro que meu filho teve. Enquanto pais perdem o sono construindo carapuças de exemplos de retidão para suas crias tentarem fazer servir em suas pré-estabelecidas vidas, eu sou um afortunado pelo leque de sorrisos sinceros que precederam cada passo embasado pela coragem de ser dono de seu próprio destino. Varramos a hipocrisia para debaixo dos tapetes de quase-virgens beatas e adúlteros sacristãos: todo pai torce para que seu filho lhe dê orgulho, pois este, assim como o amor, jamais será incondicional. Mas minha paternidade foi abençoada pelo pacote completo: o sorriso que não exige nada para iluminar um rosto, a candura do azul que acabaria com a necessidade do céu se adornar com estrelas para ser mais belo e, acima de tudo, a trajetória de vida de um homem perfeito em suas imprecisões e traquinagens.

Sabem, por vezes surgem idiotas de lua que insistem em me catequizar para uma tal de preparação para o que não tarda por vir. Não me conhecem, nem todas as lições a mim transmitidas por meu filho. Como pai exemplar, eu prometo amá-lo a cada respiração que ainda puder brotar de seu corpo, sinal da felicidade de ter por perto sua ternura de lábios abertos e seus olhos cuja tonalidade certamente inspirou deus a possuir um par idêntico.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Iniciando os trabalhos do ano

E o domingo cai do céu em gotas de um pré-carnaval sem rosto, sem gosto. Não, isso não é um desabafo, nem pedido de socorro, nem palavras que poderiam dançar ao sabor de uma harmonia em tom menor. Sem prantos, mas também sem brados. Sem reclamação. Talvez isso seja apenas uma quase nota afirmativa, passional e verborrágica, italianíssima como o sangue em minhas veias. Mas eu decidi me reinventar. E o domingo que goteja talvez ofereça a palheta de cores e tonalidades novas, que jamais poderia encontrar em meus próprios caminhos internos. Sim, aquarela que formará o sorriso que tanto gosto, e o plano de fundo será o meu próprio rosto. Aquarela, que venha a vida me ensinar cores desconhecidas para eu desfrutar novos e meus sorrisos.