quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Pater Noster

From this day on i own my father's gun.

Talvez muitos não saibam, mas há pouco mais de um ano eu fui abraçado pela paternidade. Quando chego do trabalho para acariciar os cabelos prateados do meu menino, seus olhos me fitam com uma felicidade indescritível. Uma alegria daquelas que não pedem nada em troca, adornada por um sorriso de admiração de toda a criança que vê no pai um super-herói. Apenas por você estar lá. E seus olhos, senhor, são de um azul que fariam qualquer céu nublar de inveja.

À noite, gosto de vê-lo dormir. Seu corpo frágil, enrolado em sua manta quadriculada, movimentando-se em um preguiçoso desabrochar, como um pé-de-valsa que ainda não descobriu o caminho para o salão favorito. E de quando em quando, ele me dá a honra de interromper seu valsar para me presentear com sua candura transmitida pelo indescritível azul do qual eu poderia falar horas e horas. E, para meu maior deleite, ele balbucia palavras, lindas melodias de sabedoria que poderiam mudar o mundo, se ainda pudessem ser compreendidas. E após este pequeno e só nosso ritual, cada 24 horas passam a ter valido à pena, não importa quantos leões tenham me matado por dia. Como um passe de mágica, mas não de autoria de qualquer Merlin, e sim do próprio Fred Astaire.

Inversão. Enquanto pais preocupam-se com caráter e carreira em longínquos horizontes, eu me orgulho da honradez e das conquistas do futuro que meu filho teve. Enquanto pais perdem o sono construindo carapuças de exemplos de retidão para suas crias tentarem fazer servir em suas pré-estabelecidas vidas, eu sou um afortunado pelo leque de sorrisos sinceros que precederam cada passo embasado pela coragem de ser dono de seu próprio destino. Varramos a hipocrisia para debaixo dos tapetes de quase-virgens beatas e adúlteros sacristãos: todo pai torce para que seu filho lhe dê orgulho, pois este, assim como o amor, jamais será incondicional. Mas minha paternidade foi abençoada pelo pacote completo: o sorriso que não exige nada para iluminar um rosto, a candura do azul que acabaria com a necessidade do céu se adornar com estrelas para ser mais belo e, acima de tudo, a trajetória de vida de um homem perfeito em suas imprecisões e traquinagens.

Sabem, por vezes surgem idiotas de lua que insistem em me catequizar para uma tal de preparação para o que não tarda por vir. Não me conhecem, nem todas as lições a mim transmitidas por meu filho. Como pai exemplar, eu prometo amá-lo a cada respiração que ainda puder brotar de seu corpo, sinal da felicidade de ter por perto sua ternura de lábios abertos e seus olhos cuja tonalidade certamente inspirou deus a possuir um par idêntico.

7 comentários:

Ana disse...

Baby, só digo uma palavra sobre o seu texto: Magnífico!
E continue sendo um excelente pai para o seu filho!
Um beijo fraternal...

Luis Antonio disse...

Lindo!








Mas a porra do Plurimãos não anda.

Mauro Amoroso disse...

Há um mês atrás eu fiquei bem resfriado, e meu pai não estava bem, não estava lembrando das coisas e dos nomes das pessoas. Mas todo dia ele lembrava de pedir alguém para vir ver se eu tinha melhorado...

Anônimo disse...

Amigo querido,

A vida hoje lhe presenteia com um filho, de fato, mas antes, nos presenteou (assim, no plural) com Remys.

Sabemos que temos um Remy em nossas vidas, o que nos encheu de orgulho e rendeu alegrias por tantos anos! Talvez por adimirá-los tanto - ao Remy original e aos que temos em nossas casas - percebemos essa história seja tão estranhamente estranho! Uma verdadeira confusão de sentimenos que você acaba de traduzir em poesia...

Não consigo comentar a altura, então lhe presenteio com um presente que você lembrou antes:

"E como sempre meu pai riu por último. O Homem conta suas histórias tantas vezes que se mistura à elas e elas sobrevivem a ele.E, desse modo, ele se torna imortal."

Leonardo disse...

Meu querido...

o seu velho é uma pessoa espetacular e eu tenho a honra de conhecê-lo... aliás, mais do que isso, eu fui carinhosamente apelidado por ele. Bastava eu ligar para sua casa e ele atender... "Alô? Seu Mário? Tudo bem? O Mauro está?" Resposta> Está sim, vou chamá-lo... Mauro, Leonardo da Vinci no telefone".
Será que preciso dizer mais?
Grande figura... um cara que sempre materá a juventude dos seus 83 anos (pois para todo uffiano que se preze, o pai do mauro sempre terá essa idade).

Grande beijo para o seu Mário.

P.S. Engraçado... hoje estava voltando de Paraty e lembrei dele ao passar por Angra...

Luiza disse...

Há uns 7 anos poucos reconheceriam em você sua capacidade de amar de se doar. O orgulho e admiração que você tem no seu "filho" ele tem em você, no filho que é, na pessoa incrível que ele "construiu".
De fato você tem que se preparar para mudanças, simplesmente porque fazem parte da vida, mas sim aproveite cada segundo,terão valor insetimável e serão de vocês.
Adorei!

O Nome da Rosa disse...

"E seus olhos, senhor, são de um azul que fariam qualquer céu nublar de inveja."

Adorei essa frase.

Muito bom!

Beijos.