tag:blogger.com,1999:blog-76881665879596064292024-03-13T03:34:30.958-07:00Anônimo Cidadão OrdinárioUnknownnoreply@blogger.comBlogger38125tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-5705797627102653872009-12-25T22:08:00.000-08:002009-12-25T22:42:03.584-08:00A vida após o comercial de margarina<em><strong>O Diretor:</strong></em> Atenção, gente! Silêncio na sala! 1, 2, 3... gravando!<br /><br /><em><strong>esposa perfeita e preocupada com a saúde da família:</strong></em> Bom dia, meus amores! Meu pequerrucho filho, você poderia abrir a cortina para que esses matinais raios-de-sol possam inundar nosso desjejum com a alegria do dia que se inicia?<br /><br /><em><strong>marido leitor de Içami Tiba e safenado:</strong></em> Bom dia, meu amor! Bom dia, meu idolatrado filhote! Prontos para se deliciar com os belíssimos brioches e baguetes recém-saídos do forno que trouxe para o nosso ensolarado café-da-manhã?<br /><br /><em><strong>filho adolescente mentalmente especial:</strong></em> Esperem, adorados progenitores! Não falta mais um pingo de primavera para dar um sabor especial ao nosso bílbico alimento? O que seria? Leite desnatado? Frutas frescas? Declarações de amor filial para vocês dois?<br /><br /><em><strong>esposa perfeita e marido safenado, em um uníssono que faria o elenco original de “A noviça rebelde” esboçarem um sorriso (de orgulho... ou pena?): </strong></em>Não, especial filho! O que seria? Flores do campo silvestre recém-colhidas? O arrulhar dos pombos que denunciam o amor perfeito? O buquê da noiva caindo nas mãos de seu amante que teima em sonhar que um dia estará no lugar do noivo? <br /> <br /><em><strong>filho adolescente mentalmente especial:</strong></em> Não, estupendos pais, me refiro à margarina Manhã Campestre (marca registrada), a única que previne o entupimento das artérias penianas, casando o trigo nosso de cada dia com o sabor e o humor para não sugerirmos a nossos pagadores que bitoquem o lado escuro de seus ânus!<br /><br /><em><strong>marido leitor de Içami Tiba e safenado:</strong></em> Mas é claro, filho que tanto me orgulha! Era o que eu precisava para finalmente acertar o nó da minha gravata e encarar minha rotina entediante como esfuziante! Agora posso ir para o meu ganha-pão, afinal, se não se ganhasse o pão, não se necessitaria de margarina (risos da claque que ficou desempregada entre o término de “Chavez” e a gravação desse comercial).<br /><br /><em><strong>O Diretor:</strong></em> Corta! Excelente trabalho em uma única tomada! Boa noite a todos!<br /><br />Enquanto O Diretor virava de costas para seguir sua vida, tornou um último olhar àquela disfuncional família de atores. A mulher acendeu um cigarro: “Porra, amor, ainda bem que não tive que lhe dar um beijo na cena de hoje, seu hálito está intragável. Quando você abandonou o hábito de escovar os dentes?” “No exato momento em que você passou a utilizar minhas escovas para limpar os recônditos mais fecais do toalete, meu anjo. E por falar nisso, sabe o que achei hoje no quarto de nosso filho? Uma pedra jamaicana e um vibrador com a estampa da banda Kiss.” “Cacete, Adamastor, já falei para você parar de brincar com nossas coisas de adulto!” “Foi mal aê, mãe, já devolvi sua erva e o vibrador do pai”. Ah, se os malditos diretores de marketing soubessem o quanto seria mais significativo que se filmasse a vida como ela é (marca igualmente registrada)...Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-5605963218824442412009-03-03T18:45:00.000-08:002009-03-03T19:05:52.978-08:00Vejam só que legalE não é que está em trâmite uma lei para regulamentação para a prática do bom e velho dê-jóta (ou dí-gêi) no congrssso nacional? O petardo jurídico diz que para colocar som em uma festa, qualquer uma, será preciso ter diploma de curso técnico para D.J. Não é algo brilhante? Imagina o efeito estimulante para todas as festas alternativas? É oficial (ou não, depende do resultado da aprovação da lei), nosso congresso, definitivamente, é muito cult-bacaninha. <br /><br />Com o boom da internet, qualquer pessoa pode assumir um laptop e colocar o som que quiser em qualquer festa. É um dos lados vantajosos da troca de arquivos de som positivamente anárquica. Positiva? Não, não pode. Tem que acabar com isso. É claro, tem que exigir curso técnico para você exercer seu direito de ser D.J. Isso vai ajudar a todos os D.J's brasileiros que possuem curso técnico (calma, gente, é uma grande quantidade...). Sabem quem ficaria bem triste com a aprovação dessa lei? Os donos das Estácios e Univercidades da vida, que terão mais um curso de verão para abrigar as pessoas cuja educação esses empresários do ensino (eita, paradoxo odioso) tem como primeira preocupação antes de tomar o desjejum.<br /><br />Enquanto isso, o exercício do historiador continua encaixotado em editais de concursos quaisquer na função de técnico em assuntos culturais... será que a Estácio um dia abre uma graduação disso? Tomara que não, pelo bem de historiadores que ainda querem prestar concursos para além do magistério. Meu país não é genial, praticamente uma música do Guilherme Arantes numa segunda matutina e chuvosa, sem água quente e em dia de entregar relatório?Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-76433574685644378822009-01-14T09:44:00.001-08:002009-01-14T09:51:03.886-08:00Motivos para ler o seu horóscopo antes de cantar alguémDe forma graciosa, ela se inclinou com todo o cuidado para que seus cachos negros não se chamuscassem na chama do zippo com o qual aquele homem acendia seu cigarro.<br /><br />“Você com essa cara de menininha fuma?”<br />“Qual o problema? Só mulheres que lembram personagens que a Sharon Stone interpretaria podem fumar?”<br /><br />Ela sempre achou graça desse selo que todo mundo lhe impunha: bonequinha, não importa se de pano ou porcelana, a eterna bonequinha. Mas o sorriso que ela deixara escapar com esse pensamento não tiraria de todo a razão desse pessoal que gosta de estereotipar. E seus olhos de cor indefinida começaram a correr todo o rosto daquele desconhecido. Igual a crianças correndo pelo campo empinando papagaios, como quem brinca de deuses que pintam o céu com estrelas. Sabe o interessante dos olhos que não se pode identificar a cor? Eles possuem mudanças bruscas de humor de acordo com o tempo. Em dias de sol, eles ficam de um amendoado claro e transmitem uma calorosa sensação de paz. Mas era noite. De lua cheia.<br /><br />O pobre homem já estava totalmente perdido. E ele só conseguia pensar: meu Deus, quantos anos ela tem?<br /><br />“Meu Deus, quantos anos você tem?”<br />“Bem mais que o mínimo para te colocar na cadeia”<br /><br />Sorrisos, risos, gargalhadas tímidas, gargalhadas estonteantes. Alegria bailando em sinfonia pelas mesas de um Belmonte curiosamente vazio. Você esperaria acontecimentos normais em uma quase madrugada de sábado onde fosse possível conseguir uma mesa rápido no Belmonte? Ele não poderia deixar passar a oportunidade, e teria que agir rapidamente, tendo em vista as duas caipirinhas coloridas que sua adorável companhia sorveu à moda dos irlandeses. Sendo assim, despencaram rua abaixo de uma madrugada carioca igualmente vazia. Assustadoramente vazia. Preencheram as ruas solitárias como um vendaval, daqueles capazes de destruir casas inteiras. Sabendo-se as únicas almas presentes se declararam donos dos degraus que foram escalados dois-a-dois, da porta que foi praticamente arrombada, de cada peça de roupa apressadamente despida e da cama onde repousariam horas depois.<br /><br />Mas não puderam se declarar donos do tempo e dos curiosos caminhos pelos quais ele nos guia. Desse modo, diante do longo espelho ao pé da cama, herança de uma família tradicional, surgia o rosto angelical que foi a causa de tudo. As linhas de seus olhos estavam rígidas, e, pela primeira vez naquela noite, revelaram algo que não lembrava canduras silenciosas e necessidade de ouvir e fazer promessas de amor eterno. Espiou cada traço de seu rosto que maravilhou os olhos vidrados que jaziam inertes na cama. Não pôde deixar de liberar um sorriso irônico, rapidamente substituído por um muxoxo de inquietação. Recolheu suas roupas e desapareceu. O único rastro deixado foi a solidariedade sincera, afinal, ela era um anjo, para com a pessoa que seria responsável por limpar todo aquele sangue.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-79676827846832195192009-01-07T10:18:00.000-08:002009-01-07T10:19:42.322-08:00Continue 10, 9, 8, 7...Já repararam como o pinball é a metáfora perfeita para a vida? Você é expulso do princípio de tudo por um canal reto, empurrado para um espaço confuso e inevitável. Se você fosse uma bola de ferro, contra quais obstáculos você gostaria de bater a cabeça? Exatamente, não é você quem escolhe. É a força da gravidade e duas alavancas perturbadoramente temperamentais. E quando você acha que está ficando realmente bom em evitar ser engolido pelo nada, ou, na linguagem de gamemaníacos-sopradores-de-fita-de-atari (será que esse neologismo à base de hífen também será banido pela nova reforma ortográfica?), “pegou a manha”, você cai. Apenas isso, você cai. <br /><br />Então você aprende que o pinball não passa de uma caminhada, e que do caos das luzes e barulhos irritantes você pode tirar sabedoria, e até um pouco de calma. Sim, um pouco de calma. Ela vem sem que você perceba. Sem até que você planeje. E ela não será eterna, ela dura até a próxima queda. Óbvio, não? E por isso mesmo tão difícil de ser percebido. <br /><br />E com a máquina você aprende que não existe uma grande oportunidade, apenas tentativas e perseverança. Bolas lutando contra a gravidade e contra as duas alavancas que atrapalham e ajudam de acordo com o humor de suas almas. Sim, vocês não sabiam que o metal possui alma própria? Tudo aquilo que usamos como ferramentas desenvolvem almas a partir da desilusão das nossas, e por isso algumas se tornam tão cheias de vontades e capazes das mais certeiras quedas em diferentes pontas de dedos. Mas você continua tentando, como que impulsionado por um instinto ancestral. E as bolas continuam sendo banidas pelos tubos como expulsamos o ar de nossos pulmões. Viver é um eterno auto-lançamento para um ambiente hostil, e talvez por isso mesmo sempre nos divertimos, por mais que xinguemos, soquemos ou chutemos.<br /><br />Ps: feliz 2009, amiguinhos, papai está de volta ;)Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-37098300560749357152008-06-17T10:41:00.000-07:002008-11-13T15:01:10.331-08:00Agora momento foto-musical<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_-5BHOCuC6B8/SFf3uBmpuoI/AAAAAAAAAAM/PuFUPll3-tQ/s1600-h/luisrocha_saotome36-custom%3Bsize_681,453.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://3.bp.blogspot.com/_-5BHOCuC6B8/SFf3uBmpuoI/AAAAAAAAAAM/PuFUPll3-tQ/s320/luisrocha_saotome36-custom%3Bsize_681,453.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5212907463781235330" /></a><br /><br /><br /><br />Agora em homenagem à Ana Paula, se ela diz que parece, eu acredito...<br /><br />Ele era um menino <br />Valente e caprino <br />Um pequeno infante <br />Sadio e grimpante <br />Anos tinha dez <br />E asas nos pés <br />Com chumbo e bodoque <br />Era plic e ploc <br />O olhar verde gaio <br />Parecia um raio <br />Para tangerina <br />Pião ou menina <br />Seu corpo moreno <br />Vivia correndo <br />Pulava no escuro <br />Não importa que muro <br />Saltava de anjo <br />Melhor que marmanjo <br />E dava o mergulho <br />Sem fazer barulho <br />Em bola de meia <br />Jogando de meia-direita ou de ponta <br />Passava da conta <br />De tanto driblar<br /><br />Amava era amar<br />Amava Leonor<br />Menina de cor<br />Amava as criadas<br />Varrendo as escadas<br />Amava as gurias<br />Da rua, vadias<br />Amava suas primas<br />Com beijos e rimas<br />Amava suas tias<br />De peles macias<br />Amava as artistas<br />Das cine-revistas<br />Amava a mulher<br />A mais não poder<br />Por isso fazia<br />Seu grão de poesia<br />E achava bonita<br />A palavra escrita<br />Por isso sofria<br />De melancolia<br />Sonhando o poeta<br />Que quem sabe um dia<br />Poderia ser <br /><br />(créditos da foto: roubada de algum site, exposição virtual que eu não lembro, então,se você, autor da foto, topar com esse blog, por favor, assinar a linha pontilhada: _ _ _ _ _ _ _ _)Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-39390497279270437152008-06-17T10:39:00.000-07:002008-06-17T10:40:19.033-07:00Ainda momento musical, vide nostalgia"Son, 'she said:'<br />Have I got a little story for you<br />What you thought was your daddy<br />Was nothing but a...<br />While you were sitting home alone at age thirteen<br />Your real daddy was dying,<br />Sorry you didn't see him,<br />But I'm glad we talked..."<br /><br />Oh I, oh, I'm still alive<br />Hey, I, I, oh, I'm still alive<br />Hey I, oh, I'm still alive<br />Hey...oh...<br /><br />Oh, she walks slowly<br />Across a young man's room<br />She said: "I'm ready...for you"<br />I can't remember anything to this very day<br />'Cept the look, the look...<br />Oh, you know where,<br />Now I can't see, I just stare...<br /><br />I, I'm still alive<br />Hey I, oh, I'm still alive<br />Hey I, oh, I'm still alive<br />Hey I, I, I, I'm still alive, yeah<br />Ooh yeah...yeah, yeah, yeah...oh...oh...<br /><br />"Is something wrong?", she said<br />Well of course there is<br />"You're still alive", she said<br />Oh, and do I deserve to be?<br />Is that the question?<br />And if so ... if so ...<br />Who answers? ... who answers? ...<br /><br />I, oh, I'm still alive<br />Hey I, oh, I'm still alive<br />Hey I, oh, I'm still alive<br />Yeah I, ooh, I'm still alive<br />Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah, yeahUnknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-80059941786662897702008-06-15T00:03:00.000-07:002008-06-15T00:05:23.484-07:00Mentiras de amorEm homenagem a todos que já ouviram uma mentira de amor, um "eu te amo" que jamais foi sincero<br /><br /><br />Eu nunca sonhei com você<br />Nunca fui ao cinema<br />Não gosto de samba<br />Não vou à Ipanema<br />Não gosto de chuva<br />Nem gosto de sol<br /><br />E quando eu lhe telefonei<br />Desliguei, foi engano.<br />Seu nome eu não sei,<br />Esqueci no piano as bobagens de amor<br />Que eu iria dizer<br /><br />Não, Lígia, Lígia.<br /><br />Eu nunca quis tê-la ao meu lado<br />Num fim de semana<br /><br />Um chopp gelado em Copacabana<br />Andar pela praia até o Leblon<br /><br />E quando eu me apaixonei<br />Não passou de ilusão<br />O seu nome rasguei<br />Fiz um samba-canção<br />Das mentiras de amor<br />Que aprendi com você<br /><br />Lígia, Lígia<br /><br />E quando você me envolver nos seus braços serenos<br />Eu vou me render<br />Mas seus olhos morenos<br />Me metem mais medo<br />Que um raio de sol<br /><br />Ligia, LigiaUnknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-26754591938762238692008-05-20T07:45:00.000-07:002008-05-20T08:00:22.247-07:00Caminho de voltaTempo que não dou as caras. Ocupado em brincar de pensador de clichês urbanos e formador de jovens mentes. Ocupado em brincar de ser quem sei que não sou, embora tenha me divertido um pouco, é verdade. Mas também é estranho. E agora que sinto necessidade de voltar para cá, encontro um espelho coberto por panos, tapetes e poeira. E a cada tecido retirado, camada limpa, fica a sensação de desconhecer o que se refletirá, e eu não sei se isso me dá medo. Talvez, quando tudo estiver limpo e claro, só surja eu mesmo. Ou talvez ainda surja o reflexo de teu sorriso, o que não me surpreenderia nem um pouco (é um fato, perdeste a capacidade de me surpreender). Mas ainda não é o momento. Toda madrugada é brindada com ao menos uma saideira, quando o sorridente garçom trajando um elegante preto se aproxima. Seu sorriso e o gélido véu sobre o derradeiro vidro âmbar sempre revelam que ele será merecedor cada centavo de sua gorjeta.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-15767900590662301262008-04-07T11:36:00.000-07:002008-04-07T11:38:19.739-07:00O passar dos segundosSente-se, sente-se, respire e assim permaneça, se desespere, se desespere, se permita o desespero para depois se lembrar de recomeçar a respirar. Levante-se, sinta-se pleno, mesmo ainda que fugaz e falso, dance, dance, só e de olhos fechados, perca-se em outras bocas sem abrir os olhos, porque quando o fizer, não será ela que estará lá. Sangre, sangre, não fuja do vazio que pulsa, que jorra, que te fará um homem melhor e mais sábio, embora com ainda mais cabelos brancos. Sim, não fuja, toda dor precisa ser vivida até o fim para ser curada, toda história precisa ser vivida até seu fim para emendar em novas histórias, seja lá para qual caminho estranho a vida for nos empurrar. Não se feche, não se feche, peça desculpas às bocas nas quais se perdeu de olhos fechados, tentando brincar de voltar o tempo por algo que habita na esperança vazia de uma solidão que não será eterna. Viva, viva, o riso voltará a ser conseqüência, não se prenda por demasiado a ausências, pois quando menos esperamos a vida bate às nossas portas, encontros inesperados batem às nossas portas, novos dedos entrelaçados e trocas de olhares cúmplices batem às nossas portas. Amém.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-81574111320130400942008-02-26T06:54:00.000-08:002008-02-27T08:31:05.491-08:00Crônica de uma manhã com muito, mas muito sonoHoje eu estou com um sono muito absurdo mas eu estou no Museu então tenho que fazer qualquer coisa para me manter acordado até porque dou aula até as nove da noite em Niterói qualquer coisa que me mantenha acordado como um fluxo de palavras sem qualquer pontuação mas eis que entra pela porta um hipopótamo fumando cachimbo que solta bolinhas de sabão e ele diz calmamente você precisa controlar todos os aquecedores a gás esquecidos acesos pelos banheiros do mundo. Stop. A vida parou ou fui eu quem pegou no sono?Unknownnoreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-78909653558726830532008-02-07T19:52:00.000-08:002008-02-07T20:30:44.829-08:00Sobre estes dias tão estranhosTodo mundo já deu plena razão àquele verso, aquele, ele mesmo, daquela canção, aquela, ela mesma, de amor. E também a algumas estrofes daquelas que sempre pensou que odiava, achava brega. E quem não deu, deveria, pois não é bom aprisionar solidão, porque quando ela sair não será por via de lágrimas, mas na frieza vazia de um olhar descrente. Morto como o vento que assobia por igrejas abandonadas, ricas apenas em altares sem deuses.<br /><br />Todo mundo já sofreu a ponto de se tornar aquele bêbado chato, ele mesmo, aquele do final de semana passado, que você apontou rindo e comentou com o garçom "como pode?". Na verdade, sabemos muito bem como pode, e só nos resta torcer para que tarde a chegar nossa hora de virar comentário de final de noite.<br /><br />Todo mundo já quis recomeçar do zero, sem nem perceber que antes do zero há toda uma corja de negativos, e que disso nunca poderá se escapar. Como a criança que se abriga vigorosamente embaixo das cobertas à noite, temerosa dos fantasmas do quarto e do famigerado embaixo da cama. Ela sabe que mente para si própria e que tais ameaças se alimentam apenas de sua própria mente, mas mesmo assim repete esse ritual a cada apagar das luzes, pois o medo é uma marca que nem toda alma consegue, ou quer, superar.<br /><br />Todo mundo já equacionou em diversas ordens os seguintes fatores: magoar, ser magoado, por querer, sem querer. Todo mundo tem um rosto que o acompanha ao enterrar seus olhos em travesseiros solitários. Esse rosto tem mil faces. Esse rosto tem mil segredos. E às vezes, desvendá-los pode vir a ser uma viagem dolorosa de desencontros de toques e desejos. Mas às vezes não, e essa pequena possibilidade faz todo resto valer à pena, por mais duros que nos tornemos (e Deus, como nos tornamos) a cada milha percorrida. <br /><br />Todo mundo é assim. E eu, eu só estou errando com minhas próprias pernas. Nunca é fácil. Não precisa ser certo. Só precisa ser com minhas próprias pernas. E assim eu vivo, aos meios-sorrisos, assim eu vivo por inteiro.Unknownnoreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-11093871953433338222008-02-05T06:04:00.000-08:002008-02-05T06:12:51.222-08:00Sexta-feiraEstou de mudança, e arrumando as minhas tralhas achei o fichário com as primeiras coisas que eu escrevi na vida, ainda adolescente. Vou me permitir a nostalgia, e de vez em quando colocarei uma delas aqui. Eis a primeira, com o título acima. Boa leitura, ou seria melhor boa sorte?<br /><br /><br />Não me importa mais paisagem morta<br />O passado não será o futuro do pensamento<br />E hoje, somente e pelo menos hoje, o homem será capaz de voar<br />A diversão passando de objetivo à necessidade<br />Tão tênue é a barreira entre loucura e genialidade<br />E me coloco pretensamente em cima dela<br />Tomando uma cerveja e traduzindo obscenidades em poesia<br />Apenas para me embriagar num certo sorriso<br />E hoje, somente e pelo menos hoje, eu serei um pouco diabo<br />Mas não, meu capitão, não quero ser mal personificado como mau personificado<br />Quero apenas circular com a classe malandra, atraente e brasileira dos anjos caídos<br />E quem sabe hoje, somente e pelo menos hoje, <br />Eu possa te esquecer um pouco, eu possa te esquecer por outra<br />Como se fosse possível ignorar o maravilhoso sorriso <br />Que minha covardia de dizer o que sinto expulsa para a dor da distância<br />Só por hoje, deusa, segunda estarei de volta<br />E sempre, somente e pelo menos sempre, eu serei teuUnknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-27727733944899275262008-01-23T06:08:00.000-08:002008-01-23T06:16:43.503-08:00Pater Noster<div align="justify"><em><span style="font-size:85%;">From this day on i own my father's gun.</span><br /></em><br />Talvez muitos não saibam, mas há pouco mais de um ano eu fui abraçado pela paternidade. Quando chego do trabalho para acariciar os cabelos prateados do meu menino, seus olhos me fitam com uma felicidade indescritível. Uma alegria daquelas que não pedem nada em troca, adornada por um sorriso de admiração de toda a criança que vê no pai um super-herói. Apenas por você estar lá. E seus olhos, senhor, são de um azul que fariam qualquer céu nublar de inveja. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify">À noite, gosto de vê-lo dormir. Seu corpo frágil, enrolado em sua manta quadriculada, movimentando-se em um preguiçoso desabrochar, como um pé-de-valsa que ainda não descobriu o caminho para o salão favorito. E de quando em quando, ele me dá a honra de interromper seu valsar para me presentear com sua candura transmitida pelo indescritível azul do qual eu poderia falar horas e horas. E, para meu maior deleite, ele balbucia palavras, lindas melodias de sabedoria que poderiam mudar o mundo, se ainda pudessem ser compreendidas. E após este pequeno e só nosso ritual, cada 24 horas passam a ter valido à pena, não importa quantos leões tenham me matado por dia. Como um passe de mágica, mas não de autoria de qualquer Merlin, e sim do próprio Fred Astaire. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify">Inversão. Enquanto pais preocupam-se com caráter e carreira em longínquos horizontes, eu me orgulho da honradez e das conquistas do futuro que meu filho teve. Enquanto pais perdem o sono construindo carapuças de exemplos de retidão para suas crias tentarem fazer servir em suas pré-estabelecidas vidas, eu sou um afortunado pelo leque de sorrisos sinceros que precederam cada passo embasado pela coragem de ser dono de seu próprio destino. Varramos a hipocrisia para debaixo dos tapetes de quase-virgens beatas e adúlteros sacristãos: todo pai torce para que seu filho lhe dê orgulho, pois este, assim como o amor, jamais será incondicional. Mas minha paternidade foi abençoada pelo pacote completo: o sorriso que não exige nada para iluminar um rosto, a candura do azul que acabaria com a necessidade do céu se adornar com estrelas para ser mais belo e, acima de tudo, a trajetória de vida de um homem perfeito em suas imprecisões e traquinagens.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">Sabem, por vezes surgem idiotas de lua que insistem em me catequizar para uma tal de preparação para o que não tarda por vir. Não me conhecem, nem todas as lições a mim transmitidas por meu filho. Como pai exemplar, eu prometo amá-lo a cada respiração que ainda puder brotar de seu corpo, sinal da felicidade de ter por perto sua ternura de lábios abertos e seus olhos cuja tonalidade certamente inspirou deus a possuir um par idêntico. </div>Unknownnoreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-19641157165920641212008-01-20T16:31:00.000-08:002008-01-20T16:37:04.530-08:00Iniciando os trabalhos do anoE o domingo cai do céu em gotas de um pré-carnaval sem rosto, sem gosto. Não, isso não é um desabafo, nem pedido de socorro, nem palavras que poderiam dançar ao sabor de uma harmonia em tom menor. Sem prantos, mas também sem brados. Sem reclamação. Talvez isso seja apenas uma quase nota afirmativa, passional e verborrágica, italianíssima como o sangue em minhas veias. Mas eu decidi me reinventar. E o domingo que goteja talvez ofereça a palheta de cores e tonalidades novas, que jamais poderia encontrar em meus próprios caminhos internos. Sim, aquarela que formará o sorriso que tanto gosto, e o plano de fundo será o meu próprio rosto. Aquarela, que venha a vida me ensinar cores desconhecidas para eu desfrutar novos e meus sorrisos.Unknownnoreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-5424519092295180542007-12-26T19:14:00.000-08:002007-12-26T19:19:14.193-08:00Blog novo: dêem boas vindas ao plurimãos!Bem, ainda não sei se alguém frequenta este obscuro espaço. Mas caso o faça, aproveite e dê uma passada no blog coletivo que estou gerenciando com meu grande (e furador de chopes anuais) amigo Luis Antônio (o grande autor de nossa geração blogueira, aguardem e comprovem). A estratégia é simples: qualquer texto poderá ser publicado, de qualquer autoria (à excessão de Edmundo e Romário. E do Beto também), desde que seja uma criação coletiva.<br /><br />Confiram: plurimaos.blogspot.com<br />E comentem, por favor!Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-48572350304869476362007-12-02T14:52:00.000-08:002007-12-02T14:55:06.848-08:00ZiraldeandoO azul ensolarado e vespertino emoldurava magnificamente sua fronte de menino destemido prestes a tomar a fortificação adversária. Não seria um movimento fácil, pois as caixas velhas e as árvores frondosas de primavera escondiam surpresas perigosas, adversários poderosos. E os pensamentos, estes sim os autênticos eficazes no tomar sorrateiro, se apropriaram de sua mente com a fúria de um rio represado por eras. Excitação, aquela palavra que Tia Terezinha mandara buscar no dicionário, é isso? Quer dizer que estava sentindo sua lição de casa pulsando viva na bomba irrequieta, dentro do peito, que papai diz ser o coração? Pobre papai, assertiu em silêncio, cardiologista há anos e mal sabia que tal órgão se alojava nas partes baixas, o único local que dói quando uma menina chuta, e foi ele mesmo quem disse que saberei onde fica essa parte do corpo no exato momento em que eu tomar o primeiro chute de uma menina. Seu pai ainda havia muito que aprender sobre coração e meninas, mas um quartel general inimigo precisava ser subjugado.<br /><br />E as retinas das testemunhas daquela epopéica invasão capturaram cenas de coragem inenarrável, lembranças que forjarão na criança o caráter do homem que vive e não se deixa viver. E como intercalava passos magistrais por entre caixas abandonadas e galhos ressecados. Audacioso, sabia-se simultaneamente bailarino e maestro. Regia os impropérios desafiadores que jorravam de sua língua com o objeto que a sociedade convencionou denominar vareta. Mas os sábios, aqueles que se permitem conservar a faceta infantil como capitão honorário da nau olhar, sabiam ser a batuta em questão uma excalibur de autenticidade alardeada pelo próprio Arthur, o porteiro do turno da manhã que uma vez lhe contara uma lenda sobre um rei bretão adormecido em uma ilha de fadas.<br /><br />Calma e silêncio. Os artifícios primordiais de um herói vitorioso. Brados cortando o céu, tremores de terra sob passadas pesadas e aceleradas de um par de all-star surrado. A alma e a lâmina do impiedoso sedento pela glória que catapultará seu nome para cantigas de chora-bananeira-chora e lendas de pátio de escola. E explodiu como uma matilha selvagem, nada se atreveria a se interpor em seu caminho. A poeira era levantada como uma imensa ola saudando o touro altivo e imbatível que era. Ou pelo menos foi, até ter sua trajetória vigorosamente interrompida pelo ser mais traiçoeiro, imprevisível e mortal. Venenoso, asqueroso, pesaroso, desastroso e ainda assim temeroso. Uma, sim, isso mesmo, uma menina! Daquelas bem embonecadas, exatamente onde deveria estar o antro inimigo que ele pretendia esmigalhar!<br /><br />Parecia toda de cachos e porcelana viva, tomando seu chá de mentirinha sentada, e sua figura, bem como tudo que a adornava, destoava do jardim cujos joelhos das árvores estavam empapuçados de lama e terra batida. Tomava seu desjejum candidamente, e a elegância de sua brincadeira revelava com exatidão o quão sério e real é a capacidade de uma criança transmutar o mundo. Com a xícara a meio-caminho dos lábios, levantou o olho direito, apenas, e fuzilou o estatelado herói com um verde forte que em nada lembrava águas oceânicas no verão:<br /><br />“O que você pensa que está fazendo?”<br />“Eu?! Veja bem, em tomadas de forte são tomados fortes, e não chás, e a senhora trate de evacuar esse séqüito inútil de pelúcia, ou de trocá-lo por comandos e thundercats capazes de realizar trabalhos de homem que é o que a senhora precisará para...<br />“Cale a boca. Você está imundo. Lave-se naquele riacho e tome seu lugar à mesa ao lado do Sr. Ternura Marrom. Creio que ele direcionará sua impulsividade bélica para uma boa educação e postura.”<br />“Não vou deixar minha patente rebaixada a um urso com olhos de botão que não agüentaria...”<br />“Agora. Vou separar sua refeição para servi-lo pessoalmente. Agora, sem um mas.”<br /><br />Somente um demônio fundiria um sorriso tão estrategicamente encantador e um olhar que é a morada de uma frieza capaz de fazer gritar de pavor a mais renitente alma. O resultado dessa equação foi a obediência indiscutível do garboso soldado. Porém, assim que estivesse limpo e penteado, mostraria a quem cabia dar as cartas.<br /><br />E retornou para a retomada de seu orgulho, mas seu fôlego foi estrangulado à meia lufada de escapar da garganta. Aquilo que seus olhos registravam, sua alma não decodificava. Na pequena cadeira de plástico se sentava placidamente o moleque ruivo da rua de cima, o rufião cujo quartel general pretendia tomar. Esparramava-se bem ao lado do senhor Ternura Marrom, que consentia com aquele despautério com uma calma surpreendente em seus olhos de botão. Naquele momento, aprendeu sobre decepção. Naquele momento, aprendeu sobre traição. Mas principalmente, percebeu que o coração não estava nas partes baixas, e que na verdade era aquela bomba em seu peito que de quando em quando explodia em direções diversas, como um corcel selvagem. Sabia que sua descoberta revolucionaria para todo sempre a ciência da anatomia humana, e que urgia sentar com seu pai e registrar cada detalhe para a posteridade. Mas não agora. O garoto ainda possuía muitos fortes inimigos para tomar, alguns castelos de sonhos medievais, com direito a dragões e avatares do second life, reflexo do imaginário infantil pós-moderno. Sim, ainda haveria muito tempo para outras descobertas anatômicas e fisiológicas inevitáveis. Mas este momento não é o presente, por enquanto tomado por sonhos vividos como reais e pela realidade alimentada pelo frescor da vida como uma eterna descoberta. E isso, meus caros, é uma das maiores belezas da nossa existência como homens.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-19599814797707967432007-11-14T19:22:00.000-08:002007-11-14T19:24:22.946-08:00Da gentil arte de engatinhar para fora das sombrasApenas para cortar os péssimos e carregados fluidos da confissão logo aqui embaixo. Sabe como é, coisa de libriano com humor de montanha russa se recompondo paulatina e eficazmente.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-60433648449611590552007-11-10T16:14:00.000-08:002007-11-10T16:18:30.235-08:00Carpe dyingChegou em casa lá pelas tantas e se sentiu Deus pela décima nona vez naquela madrugada. Porém, gingava como um autêntico exu, exalando fumaça de charuto barato e o odor da mais vagabunda cana, o incenso e mirra que dois dos reis magos dariam ao autêntico Macunaíma que ele era. Sim, apenas dois, pois o terceiro tinha absoluta certeza de que este rapaz não valia a sola de sapato que fosse, quanto mais qualquer grama de ouro. Mesmo assim, a excêntrica criatura adentrou a porta da sala e dançou um apaixonado tango com cada móvel que cruzou seu caminho.<br /><br />As luzes de cada cômodo estavam todas queimadas, desde que arrebentada estava sua alma pela solidão. Não sei se vocês têm conhecimento, mas esta não é um sentimento, e sim um espectro trajando capa e capuz preto, além de portar uma foice de cabo longo, torto e enegrecido pelo sangue alheio. Ele não era mais uma criança, sabia disso tudo, aliás, sempre soubera tudo que precisava. É claro que isso torna seu caminho mais tortuoso, pois mesmo possuindo o conhecimento do necessário, o ignora solenemente, em nome dos sonhos que tanto tardam a se realizar. E essa foi sua derradeira imagem na hora neutra desta madrugada: um verdadeiro pé de valsa que não deu sossego a nenhum objeto de cama, mesa e banho até chegar ao seu caixão forrado com os lençóis de duas semanas atrás.<br /><br />O dia seguinte foi mais uma nota preparatória do desfecho em tom menor que tanto se alongava. Escreveu três cartas para três diferentes e queridos amigos. Três pequenos fragmentos de um ser despedaçado, como uma tentativa de recompor aquilo que um dia já chamou de si próprio. Três pulsantes cortes de um coração errante e errado, espatifado na queda que até então tomara por ascensão. Cada uma de suas furtivas fraturas vivendo o seu de repente não mais que de repente e lamentando a ligação intransponível com seu poeta favorito.<br /><br />Tudo estava escuro, tudo estava confuso. O respirar de cada dia passou a ser feito em uma densa neblina, na verdade um véu resultante da água e do sal que se condensavam em seus olhos. Tantos hábitos, tanta surpresa. Tanta espontaneidade, tanta urgência. Tanta ânsia. Elementos que se degladiavam na bagagem de ilusões que ele descobriu que carregara só, tão somente só. E depois dessa confusão toda que se armou, ele pode vir a ser uma nota obituária, uma manchete heróica. Um presidente da república, um gerente da boca. Um pastor evangélico, um apontador de bicho. Um suicida, um santo. Isso fica a critério de cada um de vocês, pois ele mesmo acabou de descobrir que não controla para onde será direcionado o turbilhão de emoções do próximo. Assim como ninguém fará com o dele. Muito menos eu.Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-57988344960183100942007-11-08T05:02:00.001-08:002007-11-08T05:48:39.641-08:00Duas almas em dois momentos pessoaisObservou-a à distância, pela vitrine da loja. É claro que chovia, seria uma incoerência se São Pedro não despejasse sobre a calçada de pedras portuguesas sua insatisfação pela existência daquela distância entre estes dois, fruto de teimosia travestida de maturidade. Observou-a mais um pouco, como quem corta os pulsos lentamente, e pensou que a maior dor de um homem é amar a quem não se pode ter. Permaneceu do lado de fora, estático, como uma imagem secundária, um espectro tendendo ao desaparecimento. Logo ele, que já tinha desempenhado um papel tão central na vida dela, agora não passava de uma presença etérea. Sombra, distância e esquecimento. Paradas de um cortejo fúnebre rumo à solidão que ele nunca mais imaginara habitar novamente. Pelo menos não causada por ela. E seu coração cansado já não tinha mais forças para bombear sangue para o resto de um corpo condenado à inércia de uma tarde chuvosa de novembro.<br /><br />Observou-o à distância, de rabo de olho, assim que ele se postou na calçada próxima à vitrine. Não conteve o riso, pois só ele mesmo acharia que não seria notado, assim, uma estátua cujo céu se encarregava de colocar lágrimas de chuva em sua face. Ela sabia que ele a devia estar achando linda, mesmo com os cabelos negros e lisos alinhados ao rosto molhado pela chuva, e com aquela capa velha que se revelara totalmente inútil na prevenção a resfriados futuros. Só ele mesmo para pensar uma sandice dessas. Pelo visto, ainda teria muito a lhe ensinar sobre seu jeito todo especial, que ele mesmo vive a repetir que tanto lhe encanta. Ela gostaria de lhe dizer qual seria o fim dessa história, mas não tinha todas as respostas, nem todas as certezas, apenas todos os seus impulsos. E estes sempre remetiam a ele no final, seja via pensamento, seja via toques de lábio e pele. E esse homem tão bobo e tão menino não conseguia compreender essa diferente maneira de gostar, e por isso estava se arriscando a uma tuberculose tão à toa. Apenas para formar em sua mente uma cena de despedida digna de um Campanella, só tida como certa pelo seu ego tão dramático. Deus, que alma teatral! Não saberemos se ele gostará do presente que ela acabou de pedir para embrulhar, nem se ela se tornará menos confusa, e ele menos teatral. Mas, certamente, será adorável acompanhar de longe cada passo dessas fascinantes almas, torcendo para que desistam dessa tolice de magoar um ao outro.Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-8497968780847026112007-10-01T14:19:00.000-07:002007-10-01T14:42:30.567-07:00Sempre chove no dia 2Preparem o guarda-chuva, meninos e meninas. Em tempos bíblicos, construíam-se barcas para a fauna selvagem. Em tempos cariocas, Noé espreita postes vendendo guarda-chuvas de quinta por duas de cinco da moeda corrente, enquanto enrabicha olhares de preocupação para a fauna selvagem que faz o rapa. Preparem o guarda-chuva, senhoras e senhores, pois nestes tempos caiu como um raio um bobo sem corte, sujando de essência libriana o asfalto de Botafogo em pleno dia de anjo da guarda, vejam só. Em feriado de guardiões querubins e serafins, nascem os deslocados de alma. Assim, sem certificado de garantia e discernimento. Assim, só com uma mania muito grande de sentir o tempo inteiro, sobre e apesar de tudo.<br /><br />Preparem o guarda-chuva, rufiões e meretrizes, a meia-noite será de festa com sorrisos de tragédia, e suas ânsias farão uma procissão com longos de gala à base das estrelas que cairão na terra fugindo do pé d’água furioso que está para descer.<br /><br />Prepare o guarda-chuva, meu amor de olhos verdes, pois quero ver-te em sorrisos que me apaixonam e esquecer nos teus braços que é dia de anjo da guarda, onde o sonhado mais estranho pode espatifar-se em asfaltos de descida em qualquer Humaitá-Botafogo, e sem nem ter idade para beber no Plebeu.<br /><br />Preparem o guarda-chuva do senhor de olhos azuis e da senhora que declama incessantes receitas em verso, eles mereciam coisa melhor, mas há anos tem que se contentar com aquilo que choveu para eles.<br /><br />Preparem o guarda-chuva, pois as estrelas convivas mergulham em rajadas d’água, como festa de criança em que a mãe lua, gorda e elegantemente trajada, deixa-se para trás rogando por juízo e pelo garçon cujos benditos docinhos ele já não traz.<br /><br />Preparem, coloquem nas bolsas e mochilas, importem, mandem fabricar, mas olhem pelos seus guarda-chuvas, pois o tempo começou a virar, e a meia-noite promete. Promessa de chuva lavando a solidão.Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-80454651254207378422007-09-18T21:41:00.000-07:002007-09-20T10:43:02.876-07:00Dois de outubro<div align="justify">Três horas da manhã. Acordo como se nunca tivesse dormido. Em toda minha vida. Meus olhos rodeados pela escuridão, como soldados abrigados em uma trincheira fria. O processo por eles vivenciado de se acostumar à realidade ao seu redor é lento, como um longo conselho de um advogado para seu cliente assassino e reincidente. Mas eles se familiarizam com a escuridão, como um recém-nascido tateando útero a fora. Não preciso apelar ao abajur para ver minha insônia sentada à minha cadeira de trabalho com um sorriso tenro. Minha mais antiga companheira. Tomara que ela não tenha entrado no meu orkut. Dias estranhos, sempre antecedendo a comemoração do meu nascimento. Maldita praxe, um dia ainda trabalho isso com meu analista, assim que arranjar um. Minha ironia ao acordar é apenas o instinto de defesa de um animal desorientado, assustado. Transmutar-se em melancolia é sua dança natural, harmonizada em tom menor e com passos imprecisos, hesitantes como órfãos aprendendo a andar sem ter a quem guiá-los. Tudo que preciso é de um copo d’água, pois o restante está distante demais para a solidão de um quarto frio. Como odeio aniversários.<br /><br />Entre o quarto e a cozinha, a sala a qual devo atravessar. Os mesmo móveis velhos, guardiões das histórias, olhares e palavras certas nunca encaixadas nas despedidas para as quais foram geridas. Tudo que eu tanto gostaria de esquecer. Sabores amargos materializados em madeira, alumínio e vidro. No velho par de sofás sentam-se confortavelmente meus demônios e fantasmas interiores, portadores de olhares de julgamento e desviar de rostos movidos a desdém. Corpos dando forma aos anseios que eu releguei a terceiros e quartos planos do meu inconsciente. Tantos anos de solidão não lhes fizeram nada bem. Um deles me fascina mais. O menino que tem vergonha do homem que se tornará um dia. Somente os segundos antes de eu fechar os olhos pela derradeira vez me possibilitarão adjetivar a sensação que arrepia minha espinha quando nossas retinas se desafiam. Dia do anjo da guarda o caralho. Melancolia, passos pesados e noites frias, minhas únicas certezas de presente por mais um ano.<br /><br />Sede saciada, o menino que tem vergonha do homem que se tornará um dia me carrega pelas mãos, suas roupas mudam a cada porta retrato deixado para trás. A camisa azul do uniforme do primeiro colégio, a blusa amarela e o short azul da seleção de 86. Os sapatos do pai, enormes como o mundo que ele um dia sonharia conquistar. Pesados como a tristeza que lhe abate em agosto e o liberta em outubro. A cada troca de farda, ou fardo, seus olhos de menino se tornam um pouco mais frios. Ele só precisa dormir mais um pouco. Como a alma que ama em silêncio e sem saber ser correspondida necessita apenas da frase que ela não sabe se ouvirá de volta algum dia (Deus, como isso angustia). Ele só tem que dormir mais um pouco. Até o fim do mundo como ele conhece, para que finalmente se inicie o mundo como ele deseja. Talvez ele consiga dormir mais um pouco. Sorrindo com a resplandecência de um anjo, em cada cova irradiando a liberdade de um pecador sem culpas. Não tenho vergonha dele, pois sei que conseguirá dormir mais um pouco, antes até de ouvir meu boa noite. Desculpem a amolação, mas eu realmente odeio aniversários.</div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-39993772294679622092007-09-08T07:15:00.000-07:002007-09-08T07:20:44.773-07:00Em homenagem a quem teve que passar pela Praia de Botafogo no dia 7 de setembro de 2007Deus é amor mas não é guarda de trânsito!!!!Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-24943436723819993422007-09-04T20:37:00.000-07:002007-09-04T20:41:33.495-07:00Crônicas FerdinandasBela e triste história de meu nobilíssimo colaborador Ferdinando. Não desistam, meus e outros caros, a vida nos surpreende de forma bela em qualquer esquina em que pisamos (como vc me mostrou, minha linda ;) )<br /><br /> Você chegou inesperadamente. Sua beleza me conquistou desde o primeiro dia no escritório. Corpo escultural, sorriso encantador, olhar penetrante. Claro que não me tornei um admirador solitário. Você era desejada por todos os colegas de trabalho. Não me importava. Eu tinha pressa em ir trabalhar, só para passar o dia perto de você. Trabalhar ao seu lado... Eu me achava o homem mais feliz do mundo.<br /> Depois você ficou sabendo do meu estado emocional naquela época. Tinha sido abandonado pela minha ex-noiva, a única mulher que até então eu realmente amara. Jurei que não me apaixonaria por mais ninguém, até te conhecer. Descobri de novo a paixão, que depois de um tempo tive a certeza de ser amor. Estava amando novamente. Minha tristeza virou alegria, o que parecia impossível – amar – acontecia de novo. Eu precisava chegar em você, investir neste amor. Busquei sua amizade, você aceitou. Almoços, lanches, conversas, cochichos nas reuniões. Junto de você, eu me sentia no céu, iluminado pela minha deusa.<br /> Dizem que todo apaixonado deve ter em mente que é um erro pretender a amizade da mulher quando o que se quer não é ser amigo dela. Foi aí que errei. A amizade cresceu tanto que o momento de assumir o meu amor era eternamente adiado. Esperei você me falar do seu namorado de fora da empresa para eu pensar se valia a pena me declarar para você. É claro que valia, mas me corroí de ciúmes por causa disso. Imaginava você junto dele, indo ao cinema, passeando no shopping, o beijando na boca, o abraçando, transando com ele. Tinha medo de você me comparar com ele. Isso diminuiu minha audácia de tentar transformar a amizade em amor.<br /> Um dia, porém, tive a audácia. Eu me declarei, disse para você tudo que estava entalado há meses. Pouco me importei se você estava comprometida ou não. A recompensa pela minha coragem superou todos os meus medos. Nós ficamos. Você me beijou. Nem pensei em sexo, não precisava. Eu queria o seu amor, sua boca colada à minha, sua mão me acariciando, você sorrindo a cada vez que eu dizia: “te amo”. Voltei para casa cantando o início de uma nova relação, que nunca começou. No dia seguinte, sua indiferença era aterradora. Fiquei indignado. Chamei você para conversar. Você disse que seu namoro continuava de pé, que “ontem foi um momento de fraqueza”. “Desculpe, mas se você é meu amigo, deve entender as minhas razões”, foi sua sentença final. Pronto, eu era seu amigo. Fui ao céu, desci direto para o inferno.<br /> Sou uma pessoa civilizada, você sabe disso. Mantive nossa amizade, não te destratei por causa da minha frustração. Mas não deixei de amá-la, de pensar em você todas as noites, de lembrar diariamente do gosto do nosso beijo, de morrer de vontade de voltar no tempo. Aí, você começou a flertar com ele. Justo ele, o meu melhor amigo. Vocês davam sinais de que não estavam apenas na paquera. Percebia pelas suas conversas que vocês se falavam sempre pelo telefone. Eu ligava para sua casa e não te encontrava lá, ligava para seu celular e você não atendia. Vocês se entreolhavam sorrindo no escritório, iam juntos para o corredor, almoçavam juntos, saíam em horários diferentes para despistar... Tive, na dúvida, a certeza de que vocês estavam saindo.<br /> O dia em que o pouco de incerteza acabou foi na festa de fim de ano da empresa. Você chegou linda, junto dele. Sua felicidade estampada no rosto, a onipresença dele ao seu lado, tudo em você parecia uma provocação para mim. Tentei minha última cartada. Chamei você para dançar. Você aceitou. Eu te disse que não parava de pensar em você, que continuava a te amar. Você respondeu que estava em outra. Perguntei com quem. Você não respondeu. Ele te puxou para dançar. Vocês nem olharam para minha cara. Fui até a varanda para observá-los. Vocês se beijaram apaixonadamente. Meus olhos, fixos em vocês, estavam marejados, raivosos, frustrados, ciumentos. Eu me escondi atrás de uma árvore na calçada. Vi vocês saírem juntos. Para onde? Eu sabia para onde. Fazer o que? Eu sabia o que. Meu mundo caiu. A mulher que amo. Meu melhor amigo. Peguei um táxi e fui para casa chorar em cima do confidente dos amantes não-correspondidos: a cama de solteiro.<br /> Caí em depressão. Pedi uma semana de licença do trabalho. Não conseguia comer, beber, tomar banho. Depois da licença, tive que voltar. Claro, vocês não namoravam dentro do escritório. Mas era só entrar no elevador que começavam. Beijos, declarações mútuas, olhares que brilhavam ao se cruzarem, tudo na minha cara. Meu rosto escondia minha alma. Sorria para não chorar e passar vergonha por causa do meu ciúme. Sorria com os olhos encharcados de lágrimas de dor.<br /> Até o dia em que vocês convidaram todo mundo no escritório para o noivado. Era demais. Convidaram até a mim. Não, não conseguiria. Demito-me ou cometo suicídio, pensei. Por muito pouco não dei fim à minha própria vida. Só não o fiz porque já não achava que você merecia tanto. Mas eu não iria agüentar nem mais um minuto na sua presença, noiva, apaixonada (como disse) e prestes a se casar com outro homem. Eu me demiti, jurei nunca mais vê-la, nem a ele. Chorei muito, de novo, por causa de você, cadáver do meu coração, que achei que nunca conseguiria enterrar.<br /> Passou um tempo até eu conseguir outro emprego. Você se casou com ele, disseram que a cerimônia foi linda, você estava felicíssima, vocês se beijaram tão apaixonadamente na frente do padre que ele até ficou vermelho de vergonha. Não tive como não imaginar. A lua de mel de vocês. Outro homem possuindo o corpo que tanto desejei ser meu, para sempre. Para me vingar – vingança tola, como são todas as vinganças –, mergulhei no sexo. Paguei todas as prostitutas que pude, consumi todas elas. Também paquerei, fiquei, até levei algumas mulheres para a cama. Fiz a minha purgação. Uma delas gostou de mim, começamos a namorar.<br /> O tempo passou. Trabalhei, noivei. Hoje, abro minha caixa de entrada e tem um e-mail seu. Pensei no que você ia querer de mim. O livro que você me emprestou e nunca devolvi? Convidar para o seu aniversário de casamento? Anunciar o nascimento de seu primeiro filho? Você já tinha me feito sofrer demais com dúvidas. Abri para ver o que era. Eram lamentações. Ele foi carinhoso só no começo. Depois, se revelou um machista, grosso, preguiçoso, mal-educado. Suportou isso enquanto pôde, até que ele começou a bater em você. Diz que agüentou alguns meses. Em nome do amor, decidiu esperar que ele mudasse. Não mudou. Você voltou para a casa dos pais, pediu o divórcio, o caso está na Justiça. Diz que agora está arrependida do que fez comigo. Que não sabe como desperdiçou tanto amor. Que se pudesse voltar no tempo jamais teria me dito “não”. Que não mandava em seu coração, que na época só pensava nele, só queria saber dele, “alto, bonito, inteligente, divertido, forte...” Você quer se encontrar comigo. Pede reconciliação.<br /> Você não tem noção do que fez comigo. Melhor seria se você nunca tivesse me beijado. Você não tem culpa de eu ter me apaixonado por você nem era obrigada a corresponder, mas você me provocou. Você me deu falsa esperança. Você deixou que eu mergulhasse no oceano da ilusão. Você transformou meu melhor amigo em meu maior rival. Por sua causa, mudei de serviço. Agora, depois de tanto esforço para reconstruir minha vida, quando achava que você já era página virada, você aparece. E a coerência com suas escolhas? Você irá me responder: no coração não existe lógica. Eu sei. Se eu fosse lógico, não teria me apaixonado nunca por você. Posso até estar errado, mas é o que diz meu coração. E no meu coração eu também não mando.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-67804666537994972762007-08-16T12:51:00.000-07:002007-08-16T12:53:54.348-07:00Tellin' a borin' story in a boring day...Ele odiava sair de casa atrasado. Quase tanto quanto acordar cedo. Foi violentamente desmamado de um belo sonho pela necessidade de labutar. E eis que surge uma bola de neve de desgraças irrelevantes sucedendo-se em um roteiro demente. É sempre assim. Pela pressa, você não se enxuga direito ao sair do banho, e o prenúncio de um dia patético lhe presenteia com um par de protetores de ouvido à base de espuma de sabonete. Você corre com um par de meias trocadas, uma gravata esteticamente desprezível, segurada por um nó hermeticamente incorrigível. O café fervendo salta de forma suicida contra sua camisa amarrotada, formando um manchado manifesto sobre sua competência em fracassar como bípede pensante. Ao beijar sua esposa antes de atravessar a porta rachada, ele a nota sorrindo ansiosa diante sua saída, antes de rumar ao telefone no qual ela sussurrará malícias. Ser corno não era a pior de suas trapalhadas.<br /><br />E lá se vai nosso anti-herói mor, dando seguimento ao seu dia chuvoso, em um coletivo sem cobrador. É claro que ele chocou violentamente a cabeça calva contra a barra de ferro enquanto o motorista equilibrava-se entre contar o troco da linda mulher que jamais lhe daria atenção e fazer o veículo andar. É claro que ao desembarcar foi abraçado por uma lamacenta poça d’água provocada por outro integrante da frota do transporte público urbano carioca. Sem cobrador. É claro, é claro.<br /><br />Mas hoje seria diferente. Não só o hoje, ou o ontem, mas todos os segundos pelas infinitas sucessões de segundos até a temporalidade pedir aposentadoria. Por um motivo surpreendente. Ele descobrira onde se esconde Deus. Após todos esses milênios, é óbvio que o único ser a alcançar o Criador seria justamente aquele que há muito parou de se preocupar com Ele que sempre lhe delegou um rotineiro papel de coadjuvante número 1.984, gordinho e calvo (apesar de ter emagrecido 300 gramas no verão passado). Nada disso possuía relevância agora, ele descobriu onde Ele se metera. E neste exato momento, ele Lhe daria uma lição. Mesmo amarrotado, manchado de um café forte e amargo, com a orelha aureolada por sabão de banho, ele Lhe mostraria que as coisas não podiam ser feitas daquela maneira. Toda Sua pirotecnia emo não serviria para nada. Jesse Custer que se conformasse em ter a fila furada em seu ato de satisfações tomadas. O toque irônico da confusão toda é que ele seria magistralmente corneado enquanto cometia seguidas blasfêmias físicas capazes de deixar o caído rubro de vergonha.Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7688166587959606429.post-70912661334872997672007-08-10T18:47:00.000-07:002007-08-10T18:53:00.670-07:00Camisetas personalizadas de tarja pretaTudo escuro e silencioso, as condições perfeitas para uma grande fuga. Silêncio, vocês atrás de mim! Não vamos estragar tudo agora, principalmente porque eu quem tive o esforço de arquitetar a coisa toda de forma perfeita. Gabriel, seu rufião dançarino, pare com a maldita Macarena! Se Freud estivesse vivo ele criaria a Pulsão Macarena em sua homenagem, seu merdinha. Em locais comuns, as paredes possuem ouvidos. Em um hospício, as paredes possuem ouvidos, câmeras de segurança e leões de chácara que se fingem de enfermeiros, então tratem de fazer silêncio para que tudo continue escuro e silencioso! Droga, Bernardete, jogar o urinol cheio na parede de vidro não foi uma atitude legal da tua parte. Eu te disse que vinganças e represálias deveriam ficar para depois que escaparmos. Agora, voltemos antes que os enfermeiros gorilões cheguem. Todo mundo, em fila indiana, por favor. Indiana, já falei! É mais fácil coordenar babuínos com diarréia crônica no uso de uma única privada do que loucos em fuga de um hospício...<br /><br />Eu mereço estar aqui. Só os presos são inocentes que não merecem estar na prisão, os loucos sempre merecem estar onde estão. Eles merecem estar para não poderem estar para merecerem sair e estar. Entendeu? Meu psiquiatra também não. Vai ver por isso ainda estou aqui, sem entrar no mérito do merecimento. Ou não. Mas não importa. Tudo começou com um plano perfeito. Uma coisa muito simples: eu ia dominar o mundo. Para isso, eu precisava de uma estratégia. Eu ia enlouquecer as pessoas para depois domina-las. Como? Essa é a parte brilhante: camisetas personalizadas! CA-MI-SE-TAS PER-SO-NA-LI-ZA-DAS! Eu, Rodrigo Rodrigues Rojas, sou um gênio! Bastava entrar em cada e-mail, fotolog, blog e alma de todas as pessoas, oferecendo minhas camisetas personalizadas diariamente até fazê-las, as pessoas, e as camisetas também!, babar e espumar de insanidade. Se elas se interessassem, melhor ainda, vendia qualquer Hering manchada e ainda ganhava unzinho. O Coringa e o dr. Evil que se fodam, sou mais eu!<br /><br />O plano funcionava harmonicamente, um lago dos cisnes maquiavélico e vitorioso. O problema foi quando eu comecei a mandar as ofertas de camisetas para mim mesmo. Nesse exato momento, percebi que talvez eu não fosse muito normal. Especial, como diria mamãe. Fui procurar ajuda profissional, então, e me jogaram nesta joça de paredes brancas. Eu podia falar um palavrão. Vou falar. Não, não vou não. Vou enviar camisetas personalizadas, pois é bem pior. Mas o local não é de todo ruim, vejam bem, conheci pessoas muito interessantes. O Gabriel, já lhes falei do Gabriel? Um figura, ele dança a Macarena compulsiva e cotidianamente, é impressionante. Porém, o mais importante é que o recinto provia minha sede de poder com o maravilhoso néctar da pós-modernidade comunicacional, a internet. Jamais abandonei meu mantra das camisas. Minha atual vítima é um blogueiro desses aí. Ele está prestes a vir fazer parte do séquito particular que formei por aqui, eu pressinto.<br /><br />Consegui alimentar a boca faminta por olhares e insanidades desse estabelecimento com louvor. Minha tática das camisetas revelou-se estrondosamente frutífera no objetivo de me agregar seguidores. Bernardete foi o exemplo melhor sucedido do que seria a pupila perfeita. Provavelmente ela me sucederia no trono da nova ordem Rodrigo-rodrigues-rojiana mundial que se anunciava. Mas seu ato impensado e arremessador de urinóis necessitava de represália. Uma pena. Vou ter que deixá-la sem bananada no jantar de hoje.<br /><br />Mas nada disso importa, tudo está escuro e silencioso novamente. O ontem foi um outro dia que não o hoje. E o hoje é o dia onde tudo ocorrerá sem deslizes. Já estamos quase no fim do corredor de número não importa, e agora é o momento mais complicado, pois precisamos passar pelos enfermeiros vigias do turno da noite. É agora. Isso, Gabriel, distraia-os com a Macarena enquanto rumo à minha liberdade = dominação do mundo = tirania para o resto das pessoas! Sinto a sede de poder sendo saciada gradativamente pela porta última tornando-se cada vez maior em minhas retinas, está tão perto, está tão perto... dor.<br /><br />Muita dor. Geralmente este é o resultado do choque de um cacetete contra uma cabeça. E se a cabeça for a minha, então a situação torna-se realmente dramática. É a quarta vez só essa semana que a fuga fracassa. Pelo visto, Gabriel não tem treinado a Macarena o suficiente, preciso alertá-lo para tal detalhe. Enquanto sou arrastado para meus aposentos, sou informado que, assim como Bernardete, ficarei sem minha bananada no jantar. Droga. Até os gênios precisam de planos melhores de vez em quando. Mas não há motivo para pânico. O cara do blog está para chegar e, então, tudo será diferente. Eu pressinto.Unknownnoreply@blogger.com3