quinta-feira, 15 de março de 2007

Love Story

Naquele final de tarde, raios de sol atravessavam os Arcos da Lapa, da Riachuelo até os meus olhos. Como se Deus pensasse que me cegar com dardos evitaria que eu fizesse o que tivesse que ser feito. Mas eu já faço isso há tempo demais, e, veja bem, este tipo de crise de consciência é facilmente resolvida com óculos de sol. Sim, óculos de sol comprado a cinco reais na Uruguaiana é o custo exato do meu sono à noite.

Entro no velho sobrado e começo a me desviar dos objetos decorativos de sempre: sinuqueiros e bêbados ad eternum. Atravesso o corredor empoeirado de cerveja e vidas desperdiçadas, em busca de quem vim encontrar. Os três estão no final do recinto, preocupados demais em realmente acreditar que não estão sendo notados. Charles Bronson, Chuck Norris e Mr. T. Versão Rio de Janeiro, Brasil. Sim, se hoje faço o que faço, devo a maratonas e mais maratonas de sessão da tarde ao longo dos anos oitenta.

Recepção fria, como de praxe. A especificidade de nossa negociata não nos permite risadas, brindes e tapinhas nas costas. Nem que dediquemos muito tempo a instruções e coordenadas. Entregue a foto, são acertados valores e prazos. Mr. T comenta sobre seu último desenlace amoroso, claro. Aquele que só aconteceu nos sonhos dele, claro. Tal quebra de protocolo apressa minha saída, afinal, gosto de me focar apenas no que deve ser cumprido. Sim, eu poderia estar em qualquer conto do Rubem Fonseca.

Pego o carro, penetro na Riachuelo pensando apenas em maximizar formas de alcance dos resultados pretendidos minimizando o tempo despendido. Como na letra de um samba de algum DCE de estudantes de administração. Todo homem já detestou seu trabalho, sendo que no meu caso não pesam as implicações morais, mas as complicações logísticas de estar eternamente um passo à frente. Esta é a minha metodologia operacional, e eu poderia estar tentando adaptá-la agora ao novo caso. Mas acabaram de bater no meu carro. Eu poderia pensar em ficar violento. Mas dá para notar que é uma mulher no outro volante. Sim, puta merda.

Ela sai do seu carro e vem em minha direção. Deus, é a mulher mais linda que já vi na vida. E olha que ela usa óculos. E olha que ela possui fala tímida e está com o cabelo preso. Ela está gaguejando uma tentativa de "desculpa pela minha desatenção" há dez segundos, e os gagos possuem o dom cigano de transformar dez segundos em dez séculos. E de repente toda uma vida que não tem dado certo, em um país que cresce a 2,9% ao ano, é eclipsada pela minha vontade de apenas lhe dar flores que demorem para murchar. Ou seja, impossível não se sentir um Ricardo Darín em algum filme do Campanella. Sim, ela será péssima para os negócios.

6 comentários:

Unknown disse...

Hahahahaha...
Vontade de dar flores??? Eu sei o que vc realmente queria dar a ela... Vc não engana ninguém cara...
Hahahahaha
Continue escrevendo...
Abraço!

Luis Antonio disse...

Excelente!

Leonardo disse...

cara, o parágrafo sobre a entrada no lugar está sensacional!!! Muito bom mesmo!!! Vamos lá maurinho, vamos colocar tudo no papel, mesmo que virtual... abraço!

Bia Watanabe disse...

hahaha eu li!!!

pomposamente ele escreve!
gostei!
cheio de misteriozinho no ar...

Spoony disse...

to me viciando...
hehehe
bjim!

Anônimo disse...

Comentário...pronto, agora vc não pode reclamar...rs.
Eu juro que amanhã leio isso, mas hj tá rolando aquela preguicite!!

ASS: célula da al-qaeda rio!! rsrs