terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Crônica de uma manhã com muito, mas muito sono

Hoje eu estou com um sono muito absurdo mas eu estou no Museu então tenho que fazer qualquer coisa para me manter acordado até porque dou aula até as nove da noite em Niterói qualquer coisa que me mantenha acordado como um fluxo de palavras sem qualquer pontuação mas eis que entra pela porta um hipopótamo fumando cachimbo que solta bolinhas de sabão e ele diz calmamente você precisa controlar todos os aquecedores a gás esquecidos acesos pelos banheiros do mundo. Stop. A vida parou ou fui eu quem pegou no sono?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Sobre estes dias tão estranhos

Todo mundo já deu plena razão àquele verso, aquele, ele mesmo, daquela canção, aquela, ela mesma, de amor. E também a algumas estrofes daquelas que sempre pensou que odiava, achava brega. E quem não deu, deveria, pois não é bom aprisionar solidão, porque quando ela sair não será por via de lágrimas, mas na frieza vazia de um olhar descrente. Morto como o vento que assobia por igrejas abandonadas, ricas apenas em altares sem deuses.

Todo mundo já sofreu a ponto de se tornar aquele bêbado chato, ele mesmo, aquele do final de semana passado, que você apontou rindo e comentou com o garçom "como pode?". Na verdade, sabemos muito bem como pode, e só nos resta torcer para que tarde a chegar nossa hora de virar comentário de final de noite.

Todo mundo já quis recomeçar do zero, sem nem perceber que antes do zero há toda uma corja de negativos, e que disso nunca poderá se escapar. Como a criança que se abriga vigorosamente embaixo das cobertas à noite, temerosa dos fantasmas do quarto e do famigerado embaixo da cama. Ela sabe que mente para si própria e que tais ameaças se alimentam apenas de sua própria mente, mas mesmo assim repete esse ritual a cada apagar das luzes, pois o medo é uma marca que nem toda alma consegue, ou quer, superar.

Todo mundo já equacionou em diversas ordens os seguintes fatores: magoar, ser magoado, por querer, sem querer. Todo mundo tem um rosto que o acompanha ao enterrar seus olhos em travesseiros solitários. Esse rosto tem mil faces. Esse rosto tem mil segredos. E às vezes, desvendá-los pode vir a ser uma viagem dolorosa de desencontros de toques e desejos. Mas às vezes não, e essa pequena possibilidade faz todo resto valer à pena, por mais duros que nos tornemos (e Deus, como nos tornamos) a cada milha percorrida.

Todo mundo é assim. E eu, eu só estou errando com minhas próprias pernas. Nunca é fácil. Não precisa ser certo. Só precisa ser com minhas próprias pernas. E assim eu vivo, aos meios-sorrisos, assim eu vivo por inteiro.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Sexta-feira

Estou de mudança, e arrumando as minhas tralhas achei o fichário com as primeiras coisas que eu escrevi na vida, ainda adolescente. Vou me permitir a nostalgia, e de vez em quando colocarei uma delas aqui. Eis a primeira, com o título acima. Boa leitura, ou seria melhor boa sorte?


Não me importa mais paisagem morta
O passado não será o futuro do pensamento
E hoje, somente e pelo menos hoje, o homem será capaz de voar
A diversão passando de objetivo à necessidade
Tão tênue é a barreira entre loucura e genialidade
E me coloco pretensamente em cima dela
Tomando uma cerveja e traduzindo obscenidades em poesia
Apenas para me embriagar num certo sorriso
E hoje, somente e pelo menos hoje, eu serei um pouco diabo
Mas não, meu capitão, não quero ser mal personificado como mau personificado
Quero apenas circular com a classe malandra, atraente e brasileira dos anjos caídos
E quem sabe hoje, somente e pelo menos hoje,
Eu possa te esquecer um pouco, eu possa te esquecer por outra
Como se fosse possível ignorar o maravilhoso sorriso
Que minha covardia de dizer o que sinto expulsa para a dor da distância
Só por hoje, deusa, segunda estarei de volta
E sempre, somente e pelo menos sempre, eu serei teu